O entendimento da condição do ser humano sempre esteve atrelado ao seu estar-no-mundo e a sua relação com as estruturas político-sociais de seu tempo. O homem nunca deixou de espelhar suas crenças e seus dogmas.
Assim, a ele sempre fora lícito e correto valer-se de suas propriedades concreta e abstrata, no intuito de revelar tudo quanto sua natureza lhe indiciava ser.
E mais: tudo quanto queria que a natureza do outro revelasse ao mundo, uma vez que esse mundo lhe fora, adequadamente, produzido.
Caso se tome como base a visão grega, para compreensão do homem, poder-se-á perceber, de maneira mais abrangente, o quão relevante torna-se o modelo de relação com o mundo e com o próprio ser.
Todos sabem que a relação histórico-filosófico-social do mundo ocidental contemporâneo está ligada a conceitos gerados e concretizados, na base do reconhecimento das estruturas e julgamentos pinçados na antiguidade.
Querer entender as condições do mundo atual, sem se aprofundar na importância desse conhecimento, é um tiro n’água, porque a verdade poderá ser exposta para apreciações e para considerações de cada um que a avalia e a relativiza.
Se o parâmetro deste texto é a condição emocional, é fato que os seus elementos constituintes sejam, minimamente, compreendidos, a fim de construir o conceito mais adaptado ao que será validado.
Entenda-se como foi construída a ideia de emoção, a partir dos elementos estruturados a seguir.
A figura anterior demonstra as diversas faces das quais todos os seres humanos dispõem e com as quais eles vivem, de forma única, em todos os dias de sua vida. São os limites da personalidade que proporcionam possibilidades ilimitadas para qualquer indivíduo.
Todos os seres humanos que habitam o planeta Terra possuem, em medidas diferentes, todos esses parâmetros destacados anteriormente.
O que difere um indivíduo do outro é a habilidade com que se misturam e se cadenciam esses diversos elementos que compõem aquilo que se denomina de natureza humana.
Logos
É a razão. É ser capaz de utilizar a racionalidade para auxiliar o entendimento do tempo e do espaço, na integração do homem em sociedade e com ele mesmo.
Sua exacerbação é o logismo, o racionalismo.
Pathos
É o sentimento. É a emoção. É a capacidade de perceber, de forma menos densa, e criar um entendimento do estar-no-mundo, através do sentir.
Sua exacerbação é o sentimentalismo e o emocionalismo.
Eros
É a corporeidade. O sentido da materialidade e da concretude. É tudo aquilo da natureza física. É o ser capaz de entender o corpo como a base de toda lógica da vida.
Sua exacerbação é o erotismo e o materialismo.
Mythos
É a capacidade de transcender. É entender o mundo, como um resultado de sua imaterialidade e de sua forma menos densa. É a tentativa de explicação àquilo que não parece tangível nem mensurável. É a metafísica.
Sua exacerbação é o misticismo.
COMO LIDAR COM ESSAS DIMENSÕES?
Depois desse entendimento dos conceitos, você deve estar pensando que muitas palavras e muitos significados foram concebidos através desse conhecimento. E foram mesmo. E será a partir disso que tudo começará a fazer sentido, no momento do estudo das relações com a emoção.
Em quase todas as palavras que tenham a base científica, utiliza-se o sufixo logia (que vem de logos) que, em tempos atuais, traduz-se como estudo. Por isso, somente se considera Ciência aquilo que tenha base num entendimento racional.
A Ciência tornou-se materialista, objetiva e positivista. Apenas se comprova o que a ciência pode estabelecer como verdade, através de princípios e critérios tangíveis e mensuráveis.
Razão e matéria passam a andar solitárias, mas sempre solidárias, e começam a condicionar a base do pensamento e do comportamento humanos.
Essa máxima é importantíssima para se entender a dificuldade do indivíduo em compreender seu lado não materialista e não lógico.
Desde então, a percepção de tudo, a partir da materialidade e da lógica dos cinco sentidos, é a única opção e sempre apontará para a condição exterior ao ser humano.
A ramificação do pathos e do mythos – embora elementos de base da natureza humana, como visto – deixa de ser uma condição primaz na condução do indivíduo nessa sociedade materialista que emerge.
Essas duas dimensões possuem níveis “aterrorizantes” de subjetividade e, certamente, “poluiriam” a visão objetiva e concreta do mundo.
A razão e a matéria constituem, a partir de então, um valor de existência muito maior do que o sentimento e a transcendência. E as quatro não mais coexistem como entendimento do indivíduo. A condição do objeto (a objetividade) é superior à natureza do sujeito (a subjetividade).
Quando, hoje, solicita-se a construção de um texto, principalmente, dissertativo, é notória a preferência do objetivo ao subjetivo; denotando a necessidade de se retirar a qualidade do sujeito em favor do objeto.
O EQUILÍBRIO TETRADIMENSIONAL
A intenção principal é perceber que todos possuem as quatro dimensões, em proporções diferentes entre si.
É como se fosse possível entender cada indivíduo como único no mundo. É, exatamente, porque as dimensões mencionadas são construtos e fundamentos do ser humano e dele, indistintamente, fazem parte.
Cada pessoa constrói sua existência e a fundamenta nas nuances das quatro dimensões da personalidade. Todo ser humano compreende-se no mundo – entendendo-o e dele participando – aliando seus sentidos físicos aos não físicos.
Infere-se que, para construir o estar-no-mundo, é necessário percebê-lo por meio daquilo que é mais denso e também daquilo que é menos denso (contraposição entre o físico e o metafísico).
Se você voltar à imagem anterior das quatro dimensões, vai compreendê-la, comparando-as com os pontos cardiais, que determinam as principais direções que nos dirigem todos os dias (Norte, Sul, Leste e Oeste). No entanto, com o entendimento mais largo, poder-se-ia, também, interpretar que as quatro dimensões gerariam os pontos “colaterais”.
Nessa conjuntura, realizar-se-iam as junções de Logos e Eros, de Logos e Mythos, de Pathos e Mythos e de Pathos e Eros. Assim, haveria sentido na construção, respectivamente, da lógica materialista, da fé racional/materialista, da fé metafísica/não materialista e do sentimento carnal ou a emoção densa.
A palavra Patologia indica uma potencialidade e traduz uma vivacidade teórica que amedronta o mais corajoso dos cientistas céticos.
Pathos (emoção) e Logos (razão) deixam a inferência do entendimento de que o estudo das doenças teria como fundamento básico a emoção. Como é um termo da Antiguidade, sabe-se que Saúde e Filosofia eram situações indissociáveis.
Nessa perspectiva, releva-se que, apesar de haver quatro “polos” distintos e escanteados, eles dialogam entre si. Ainda que sejam opostos, são, especialmente, complementares. Logos contrapõe-se ao Pathos e o Eros contrapõe-se ao Mythos. No entanto o que falta ao Logos existe no Pathos e o que falta ao Eros existe no Mythos e vice-versa.
A melhor compreensão é aquela em que as quatro dimensões comunicam-se o tempo inteiro e nunca se comportam apenas como contrários, mas, sim, como complementares que são.
A concepção de oposição, sempre, foi muito discutida em todo o processo de interpretação filosófica do mundo. Ser antônimo não quer dizer ser excludente ou ser separado. Muito pelo contrário. Jamais se saberia dentro se não fosse fora; alto se não fosse baixo; perto se não fosse longe; belo se não fosse feio.
O ser humano é uma construção dessas matrizes e em graus diferentes, diversos e plurais, que o tornam um grande caldeirão de possibilidades e de vertentes jamais imaginadas, por serem sempre inéditas.
Esse ineditismo induz o ser humano a sentir que há uma necessidade de compreensão – muito menos perversa de si mesmo – que o conduza para um entendimento de maior percepção dessas probabilidades, que, na maioria das vezes, não interessa ao modelo hegemônico de enxergar o mundo.
O MODELO HEGEMÔNICO
A condição para compreender a emoção é permitida apenas quando se depara com esse rol de situações que se vê acima. Isso tudo pode forjar a sensação de estar-no-mundo, de certa maneira, e levar a empreender, de forma totalmente equivocada, as ações na vida.
O modelo hegemônico de enxergar o mundo nasce da vertente que põe o logismo materialista como condição precípua para interpretar o mundo e o outro. É um paradigma que forja a estrutura mental do ser humano para apenas concluir que o que vale mais é aquilo que pode ser visto, através da objetividade, ou provado com a tangenciabilidade da forma e do espaço.
Essa concepção precisou abrir mão do protagonismo antagônico do sentimento e da transcendentalidade. A subjetividade – condição precípua para a revelação do mundo – entrou em total desgraça.
Ver o mundo como se fosse único aos olhos de cada um passou a não ser um pressuposto validado pela nova ciência. E o entendimento de tudo pelos olhos de poucos tomou a forma de pensamento hegemônico.
A religião tornou-se inimiga da ciência, simplesmente, porque a fé jamais seria medida ou tangenciada pelo modelo lógico-materialista.
O sentimento passou a ser enxergado alguns níveis abaixo da razão, porque a emoção é subjetiva e não serviria à condição física e objetiva das ações humanas.
Não mais se viveria a ilusão do futuro, uma vez que se precisava fincar o pé na objetividade real do presente. Passou-se, na verdade, a não mais entender o mundo com o coração, mas, sim, com a razão. O coração, naquele momento, seria um mau conselheiro.
Todas essas posturas diante da vida humana foram solidificando-se e se enraizando, de maneira que se tornou um pensamento social hegemônico e se tornou a melhor forma de encarar a vida.
Engendrou-se, a partir disso, uma concepção de viver bem a melhor condição da vida, através de um pensamento regido pela objetividade e pela materialidade do mundo.
Um plano em que o sentimento, a emoção e a transcendência teriam um papel muito menos importante e repleto de interpretações fugidias e imprecisas.
O modelo hegemônico de ver o mundo não há de transcender ao concretismo e ao formalismo objetivo da mentalidade científica que se sobrepuseram, de maneira ordeira e absoluta, aos pensamentos mais subjetivos e menos retilíneos da sociedade.
O modelo não expande nem complexifica o mundo. Pelo contrário, ele é reducionista e simplifica tudo quanto há em redor do ser humano e que coexiste consigo e que demanda de análise e de aprofundamento.
Evandro Livramento
Educador, Consultor em Educação e Desenvolvimento Humano e Produtor Digital
Muito bom Van!
Amei pois a sua criatividade e a sua inteligência pode te levar muito longe, mas você precisa permitir que isso aconteça. Desejo que você reconheça o talento que existe em você assim como eu reconheço.
Celebrar a escrita é reconhecer a singularidade e a importância desta forma de arte pois escrever é estar no extremo de si mesmo.
Parabéns seu bonito!